Com a era do plástico, qualquer moda espalha-se pelo mundo como uma praga. É o caso do mais que badalado tubo de plástico colorido que, apesar de frágil para ser constantemente fabricado, demorará centenas de anos a deteriorar-se no ambiente. Claro que este instrumento não será de todo original, tanto no som produzido como na sua utilização futebolística. Então vejamos. Nas décadas de 60 e 70 do século passado, recordo o instrumento, semelhante na forma e no som, muitas vezes utilizado no antigo Campo das Capelas, para incentivar à vitória a equipa do Futebol Club de Alpendorada - o Corno.
E que prazer havia na preparação deste instrumento. Em primeiro, seria necessário pedi-lo no talho. E se não fosse possível, encontrar maneira de obtê-lo. Depois, toda a trabalheira da limpeza interior e exterior. Só depois se preparava a embocadura que teria de ficar bem polida para mais facilmente e comodamente se produzir o tal som ou ruído contínuo, em tons graves. E não um roufenho e plastificado vouvouzelo.
Depois, não é descritível o carinho e o orgulho ao actuar em público, com o resultado de tal trabalho artesanal. Saltavam-se barreiras como o muro do Campo das Capelas - a canalha não tinha dineiro para o bilhete - não só para ver a equipa, mas para puxar por ela. E lá estava o corno altivo e sonoroso nos lábios de uma criança. Somente um som rivalizava com o do corno. Eram os disparos das "mauser" da GNR, quando havia confusão. A multidão dispersava, e o corno metia a viola ao saco, até a um próximo encontro.
Durante alguns anos ainda vi esse instrumento aos tombos pelos campos de cultivo, camuflado com a terra. Já se terá desfeito, mas ficou tão gravado na minha memória que ainda escuto o seu canto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário