domingo, 28 de fevereiro de 2010

A outra fauna e flora resistentes a intempéries


Não há tornado que faça voar estes "elefantes brancos", com raizes de décadas, em Alpendorada.
Fotos: F. Costa

Águas que sobem, telhas que voam!

O temporal que ocorreu ontem em praticamente todo o país, com chuva e ventos fortes, também deixou marcas, por volta das 16 horas, em Alpendorada, com destruição de telhados e queda de árvores. Entretanto, as águas do Douro continuam a subir.




O Cais de Bitetos novamente alagado.



Fernando Costa

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Património gastronómico – A lampreia

Nesta época da lampreia e do sável, recordo o tempo da minha infância, nos finais dos anos 60, e o meu avô, Rodrigo Pinto, único funileiro/ latoeiro da freguesia. No seu ofício, inventou, nessa época, uma forma de conservar a lampreia, criando uma embalagem de forma circular em zinco, com as medidas aproximadamente de 25 cm de diâmetro e 12 cm de altura. A parte superior apresentava uma pequena abertura circular de 6 cm de diâmetro, posteriormente tapada com soldadura.
As lampreias eram adquiridas aos pescadores que possuíam as pesqueiras e os alares muito perto do local, onde hoje se situa a barragem do Torrão, no Rio Tâmega. Um desses pescadores era o Sr. Reimão (também já falecido). Outro era o Sr. José Cunha morador no lugar de Carcavelos, que ainda hoje vende lampreias junto à barragem do Torrão, perto do ribeiro de Cardide e que possuía também uma pesqueira perto do local da barragem. As lampreias que hoje vende são provenientes da Figueira da Foz.
Existia um tanque junto à casa e local de trabalho do meu avô que servia de armazenamento e exposição das lampreias, todas elas vivas, à espera dos clientes que em pouco tempo todas as compravam, por cerca de 10 escudos cada.
Para a conserva eram seleccionadas as melhores que, depois de preparadas pela minha avó Maria, eram enlatadas e seladas com soldadura. Muitas destas conservas eram enviadas para o Brasil, por navio, principalmente para os familiares. e também para outros países tal como Angola.
O passatempo preferido de meu avô era a pesca. Levou-me muitas vezes com ele a pescar junto ao rio Douro nas pesqueiras existentes na altura que pertenciam ao Mosteiro de Alpendorada.
No Torrão existiam bastantes pescadores que se dedicavam à pesca da lampreia e grande parte das pesqueiras e alares situavam-se no Rio Tâmega, mais precisamente no lugar de Pensos. Houve um ano em que a lampreia foi em tão grande quantidade que, no dia de Páscoa, quase não chegavam a tempo do Compasso, apesar de terem estado a pescar desde manhã bem cedo. Nesse dia pescaram cerca de 400 lampreias.
A lampreia ou se gosta ou se odeia. Quanto a mim, não dispenso a minha parte.


Igreja e Convento de Alpendorada, com o rio Douro ao fundo, antes da construção das barragens que impediram o trânsito das lampreias.


Excerto dos Estados de Pendorada, ADB, de meados do século XVIII, que apresenta o número de lampreias e sáveis contabilizados pelo mosteiro, além de outros produtos. (Digitalização de microfilme por João Costa)


Foto do rio Douro, vista da quinta de Bom Jardim, com zonas das pesqueiras ao fundo.



Rio Tâmega, zona dos antigos moinhos submersa pela barragem. Foto de 1980.


Alicerces de um projecto de uma ponte Ferroviária sobre o Rio Tâmega situado na proximidade da quinta de Sobretâmega, 1980. Este projecto foi posteriormente executado no Marco de Canaveses.


Manuel V. Antunes, em 1980, a observar o local onde viria a ser construída a actual barragem do Tâmega.





Pescadores do sável e da lampreia, na freguesia do Torrão, no lugar da Conca. Um dos barcos era propriedade de José Rodrigues, natural do Torrão.


Ribeiro de Cardide.


José Cunha no seu negócio de venda e amanho das lampreias, junto ao ribeiro de Cardide.


Já amanhada, só falta ir para a panela e depois... recordar o sabor de séculos!

Reportagem de Fernando Costa

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Maratona ambiental

Já no próximo mês de Março vai realizar-se a campanha LIMPAR PORTUGAL. Em Alpendorada há muito que limpar, a começar pela consciência de muitas pessoas. No dia 14.02.2010, numa das caminhadas habituais que faço periodicamente pelos espaços de Alpendorada, em contacto directo com a natureza, constatei in loco o desprezo e o desrespeito pela Natureza e pela nossa terra. Pela manhã, visitei o ribeiro que nasce no lugar de Lamaçais e vai desaguar à Albufeira da Barragem do Torrão, na direcção do local onde existira uma pequena praia fluvial, antes da construção da barragem. É um espaço propício para zona verde e de lazer, com todas as condições para tal: água, sombras de árvores de grande porte, maioritariamente, carvalhos, muros a delimitar os vários declives do terreno e uma paisagem única e maravilhosa. Será, pois, urgente a transformação deste caixote de todo o tipo de lixo num pequeno paraíso! No final da manhã, visitei o Monte Moirinte, um dos poucos locais onde se sorve o ar puro, a tranquilidade e a maravilhosa paisagem para a albufeira da barragem e para o serpenteado do rio. Avistam-se ainda as freguesias de Rio de Moinhos, Torrão, Canelas, Terras de Castelo de Paiva… Infelizmente, este miradouro e miratâmega, que deveria estar preservado, é também invadido pela poluição. No início da tarde, o sopé do Monte Ladário mostrou-me os caminhos pedestres abandonados e esquecidos, cobertos de tojo e arbustos. Estas vias que se ramificam por todo o monte Ladário e nos levavam, na nossa infância, ao Castro de Arados - Meco, nessa altura um espaço ainda relativamente preservado, esperam também por uma recuperação e preservação. Acompanhei os vários cursos de água/linhas de água que descem o monte e trazem consigo todo o tipo de poluição e contaminação, essencialmente as lamas, e que deveriam ter a atenção e preocupação de todos nós . " Água é vida". Já no sopé do Ladário, ao lançar o olhar para todo o caminho percorrido e para o promontório ancestral, fui atacado pelo enorme impacto visual das crateras das pedreiras. Talvez a plantação de árvores junto à orla desses locais minimizasse este choque visual, com a vantagem de reter as poeiras. Ao chegar à Tapadinha, no centro de Alpendorada, junto ao quiosque recentemente instalado ( como se não bastasse o choque visual do Monte Arados), encaro aí , num jardim, com uma "árvore metálica de grande porte". Esta, sim, precisa de um abate! Já perto de casa, passei junto à escola EB 2 3 de Alpendorada e Matos e reparei no estado lastimoso em que se encontram as paragens de autocarro. Necessitam de uma limpeza criativa! Talvez um projecto de ilustração pelos alunos que frequentam essa escola viesse enriquecer esses espaços! No alto do monte Ladário, a paisagem é deslumbrante, mas os nossos pés são perseguidos pelo lixo ou irresponsabilidade de quem o atira para a natureza.
Nem o marco escapa aos que insistem em ficar na história pelas "borratadas".
Antigo caminho de acesso ao castro de Arados, em vias de extinção.











Moirinte. Sem dúvida, uma bela paisagem, mas se olhar à sua volta...






Solução: passar do puro vandalismo à arte. Têm a palavra os alunos da escola vizinha desta paragem.


A tal "árvore" a necessitar de ser abatida!





O ribeiro e todos os seus "adereços"!

Reportagem:
Fernando Costa