Não sei se ainda se mantém a tradição de Cantar as Janeiras e Cantar os Reis. Lembro-me sim de grupos de ocasião, mais ou menos organizados, percorrerem diferentes lugares da freguesia, com cantigas para encher o saco e o papo. Eram constituídos, essencialmente, por rapazes novos, e cada grupo tentava, alguns dias antes, "contratar" um músico-guia que os orientasse, acompanhado geralmente pela concertina. Entre as cantilenas e as batidelas de dentes (um instrumento semelhante ao reco-reco!), lá se iam abrindo umas portas que ofereciam umas rabanadas, bolinhos de gerimú, aletria, um salpicãozito e também uns troquitos, no final, repartidos por todos. Para além da voz, uma vezes afinada e outras nem por isso, cada elemento do grupo fazia questão de tocar um instrumento, para melhor justificar o pagamento final. Eram os ferrinhos, feitos de véspera, com um pedaço de verguinha, o bombo, o acordeão, a concertina, a pandeireta e até a "cramelheira". Recordo-me de utilizar, como último recurso, não tinha mais nada, uma roda dentada de motorizada suspensa por um nagalho e percutida por uma qualquer ponta de ferro. O som produzido lembrava o som dos ferrinhos, embora mais refinado e contínuo.
Não sei se ainda se mantém a tradição na espontaneidade de cantar as Janeiras e os Reis...
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