O alçapão era um recorte camuflado de soalho que se abria para os fundos térreos da casa. Aí viviam os odores a salgadeira, bolores e teias de aranha. Não era uma descida aos infernos, mas a entrada no mistério da criação e das aventuras de infância.
Os bracitos de criança levantavam a custo o pedaço de chão emadeirado e preso por duas dobradiças, enquanto as pernas e os pés apalpavam escadas no escuro. A cabeça segurava o soalho articulado até o corpo desaparecer no cheiro a sal e escuridão.
Completo o soalho novamente, os olhos fechavam-se e arregalavam-se até se misturarem com o negrume. Os pés descalços absorviam a frescura da terra batida por séculos de imaginação.
Alçapão é este acre de sal que não corrói o tempo.
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